15 de março de 2009

Fernando Gomes

Fernando Mendes Soares Gomes nasceu no dia 22 de Novembro de 1956 no Porto.
Foi António Feliciano quem o descobriu para o futebol nas captações de jovens talentos no Campo da Constituição, levando-o para o Futebol Clube do Porto ainda muito novo.
Em 1974/75 e com apenas 17 anos, integrou o plantel principal dos Dragões, orientado na época pelo brasileiro Aimoré Moreira.
A sua estreia como sénior aconteceu no dia 8 de Setembro de 1974 no Estádio das Antas, na recepção ao G.D. CUF. Os portistas venceram por 2-1 com Gomes a apontar os dois golos dos azuis e brancos na partida inaugural do Campeonato Nacional de 1974/75.
Ganhava 12 contos por mês enquanto Cubillas, o artista da altura levava 125 notas de mil para casa.
Na época de 1976/77 venceu o seu primeiro Título com a camisola do F.C. Porto. Gomes marcou o único golo com que os portistas derrotaram o S.C. Braga na final da Taça de Portugal.
Gomes Instalou-se com alguma facilidade no onze titular e foi um dos grandes responsáveis pela conquista dos dois Títulos de Campeão de 1977/78 e 1978/79, ao ser o melhor marcador em ambos os campeonatos, com 24 e 27 golos marcados.
Com o término da época 1979/80, veio o tão conhecido verão quente: Gomes, juntamente com Teixeira, Oliveira, Lima Pereira, Frasco, Simões, Freitas, Jaime, Quinito, Octávio, Romeu, Albertino, Costa, Sousa e Tibi, saíram em defesa de Pedroto, despedido pelo presidente Américo de Sá, que não apreciava o estilo de guerrilha de Pedroto e Pinto da Costa em relação ao poder de Lisboa. No final desta confrontação, apenas Oliveira e Octávio, não deram o braço a torcer e acabaram por abandonar o clube. Gomes optou por ficar mas seria transferido para o R.S. Gijon no dia 13 Agosto de 1980. O F. C. Porto acertou a transferência, a troco da exorbitante quantia de 60 milhões de pesetas! Dessa quantia, ao avançado caberiam 20 milhões de pesetas, um terço do valor total. No primeiro jogo pelo clube Espanhol, marcou cinco golos ao Oviedo F.C. Mas, felizmente para o F.C.Porto, as coisas não iriam correr muito bem em Espanha. No início da época, Gomes tinha uma lesão grave que se foi complicando, e teve mesmo que ser operado. Em declarações Gomes desabafava: "Confesso que admiti vir a jogar pelo Real Madrid ou pelo Barcelona, mas... fui para Gijon sem qualquer lesão. Mas posso sair, o Gijon só quer o dinheiro que pagou pela minha transferência. Não engano ninguém dizendo que gostaria de voltar ao F. C. Porto, mas se for o Sporting ou o Benfica a contratar-me não deixarei de ser o mesmo profissional."
No início da época 1982/83 Gomes já estava de regresso ao F.C. Porto, à sua plena forma e com uma fome de golos impressionante. Nesse ano seria o melhor marcador da Europa e vencedor da Bota de Ouro com 36 golos, repetindo a graça em 1984/85 com 39 tentos apontados.
Em 1983/84, foram os seus golos que levaram a equipa à final de Basileia, ingloriamente perdida para a Juventus F.C.. Ainda nessa temporada venceu a Taça Associação de Futebol do Porto e a Supertaça Cândido de Oliveira
Na época seguinte voltou a conquistar a Supertaça Cândido de Oliveira e pela terceira vez sagrou-se Campeão Nacional.
Em 1985/86, repetiu a vitória no Campeonato Nacional, quando os portistas fazem uma segunda volta sem uma única derrota (12 vitórias e 3 empates).
Na época de 1986/87, Gomes foi um dos protagonistas da fantástica caminhada até Viena, na Áustria, onde os Dragões venceram os alemães do F.C. Bayern Munique por 2-1 na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, uma partida que Gomes falhou devido a lesão. Ainda nessa temporada ajudou a vencer mais uma Supertaça Cândido de Oliveira.
Na época de 1987/88, continuaram as grandes vitórias, nacionais e internacionais e em todas elas com o contributo de Gomes. A primeira conquista foi a Taça Intercontinental, disputada no dia 13 de Dezembro em Tóquio, em que o F.C. Porto derrotou os uruguaios do C.A. Peñarol por 2-1 com Gomes a inaugurar o marcador aos 41 minutos e Madjer a fechar aos 109. Precisamente um mês mais tarde os Dragões ganham a Supertaça Europeia ao vencer os holandeses do Ajax F.C. por 1-0 nos dois jogos, em Amesterdão Rui Barros foi o marcador do golo depois de uma assistência de Gomes e nas Antas foi Sousa a confirmar a vitória dos azuis e brancos. Depois Gomes conquistou o Campeonato Nacional em que os Dragões obtiveram mais vitórias (29), Mais golos marcados (88), menos golos sofridos (15), menos empates (8) e menos derrotas (1). Em Junho e a fechar uma temporada de sonho, os portistas vencem a Taça de Portugal. Gomes termina a época com 39 jogos disputados e 22 golos marcados.
Mas em Novembro de 1987 iriam começar os problemas. Tomislav Ivic, assumiu numa entrevista que “Gomes é finito!” e lançou no clube uma confusão danada. No jogo da segunda-mão da Supertaça Europeia frente ao Ajax F.C. de Cruyff, Ivic trocou Gomes por Jorge Plácido antes do final do jogo e ouviu a maior assobiadela da sua carreira. Porquê? Porque o, então, Jugoslavo impediu Gomes de erguer um troféu internacional em pleno Estádio das Antas… grande parte dos portistas nunca lhe perdoou. Sobre a possibilidade de abandonar o futebol, Gomes dizia: “Se penso na retirada? Vivo o presente e não sou astrólogo, mas tenho um amigo astrólogo que me disse que jogaria mais quatro anos...”. As coisas entre Gomes, a direcção e a equipa técnica estavam tudo menos pacíficas e sabia-se que a única coisa que mantinha Gomes no F.C. Porto era o carinho que a massa associativa tinha pelo avançado, facto que o avançado sabia usar como ninguém. Em Junho tudo parecia voltar aos eixos quando Ivic saiu do clube. Gomes renovava o contrato e Quinito, o novo treinador afirmava: “Comigo… é Gomes e mais dez”. O problema é que Quinito não se aguentou muito tempo à frente da equipa técnica e voltaram Artur Jorge e Octávio, dois velhos conhecidos. As coisas andavam outra vez bastante tensas, quando o F.C. Porto teve uma deslocação à Madeira para enfrentar o Marítimo S.C. O avião atrasou-se e a comitiva chegou ao hotel apenas às 23 horas, ainda sem jantar. Quando por volta da meia-noite o jantar começou a ser servido inicialmente pelas mesas VIPs (Dirigentes e técnicos), como era normal, Fernando Gomes levantou-se e insurgiu-se com o facto essencialmente devido ao adiantar da hora. Octávio Machado interviu e disse que ele, Fernando Gomes, “não mandava ali”. Gomes respondeu que “era o capitão”… mas acabou por insultar Octávio chamando-lhe: “Palhaço e bufo dos tempos do sr. Pedroto”. O Bi-Bota acabou com um processo disciplinar e suspensão de todas as actividades. Respondendo a um jornalista sobre as razões da perseguição que se dizia alvo, Fernando Gomes referiu: “A primeira razão relaciona-se com o invejável apoio e carinho que granjeei junto da massa associativa do F. C. Porto e público em geral. A segunda razão é a identificação que se faz entre a minha figura e o F. C. Porto”. É preciso notar que Gomes teve uma dimensão nacional e internacional enorme. Devido ao apoio contagiante que tinha nos adeptos, o seu peso dentro do clube era considerado exagerado pela administração e obviamente que os problemas tinham que surgir.
Em Junho do ano de 1989, Gomes provocava uma dor de alma na maior parte dos portistas ao abandonar o F.C. Porto.
Ao serviço do Dragões, Gomes jogou durante 13 temporadas, conquistou 15 Títulos, disputou 455 jogos oficiais e marcou 347 golos. Venceu 6 Bolas de Prata e 2 Botas de Ouro.
Em 1989/90 ingressou no Sporting C.P. onde jogou durante duas temporadas até terminar a sua carreira no final da época de 1990/91. O Astrólogo acertara! Ainda pisaria o relvado das Antas ao serviço do clube leonino, sendo recebido por uma mistura de palmas e assobios. Com a camisola do emblema de Alvalade, Gomes disputou 79 partidas oficiais e apontou 38 golos.
O ultimo jogo que disputou foi no dia 26 de Maio de 1991 no Estádio José de Alvalade, quando os leoninos receberam e venceram o Gil Vicente F.C. por 2-0, no ultimo jogo do Campeonato Nacional de 1990/91. Foi também nessa partida contra os barcelenses que Gomes marcou o seu ultimo golo da carreira ao apontar o segundo golo dos Leões.
Fernando Gomes foi um avançado fantástico. Excelente no jogo de cabeça, um posicionamento perfeito, movimentava-se muito bem na área, fazia jogo com os companheiros mais atrasados, abria espaços para entrada de colegas e tinha um instinto pelo golo que era qualquer coisa de fenomenal. Foi um dos mais carismáticos Capitães que o F.C. Porto já viu e com certeza o avançado mais completo que envergou aquela camisola.
Em 2010 voltou ao Futebol Clube do Porto para assumir o cargo de Director de Relações Externas. em Outubro de 2016 passou a ocupar o cargo de Director de Scouting dos Dragões.
Fernando Gomes faleceu no dia 26 de Novembro de 2022 após doença prolongada.

Palmarés
1 Taça Intercontinental
1 Taça dos Clubes Campeões Europeus
1 Supertaça Europeia
5 Campeonatos Nacionais da 1ª Divisão (Portugal)
3 Taças de Portugal
3 Supertaças Cândido de Oliveira
1 Taça Associação de Futebol do Porto
1 Taça Associação de Futebol de Lisboa
2 Botas de Ouro
6 Bolas de Prata

12 comentários:

dragao vila pouca disse...

Meu caro Paulo, eu relação ao F.Gomes posso dizer que ele naquele problema da Madeira, me desiludiu como profissional, capitão e principalmente, como portista.
A desiliusão foi maior, porque o conhecia bem e não esperava.
Mas com o tempo tudo passa e fico contente que agora, possa desempenhar o papel de embaixador do F.C.Porto, como figura do clube, que indiscutivelmente, foi.

Um abraço

Anónimo disse...

Quanto à questão, sobre o Gomes e sua saída do FCP: Tenho a convicção que a Direcção, naquele tempo, não soube distinguir o trigo do joio, como mais tarde se apercebeu - no caso do Octávio...
E, em não ter havido uma correcta acção, como penso,foi na linha do que aconteceu (noutros tempos) com alguns outros, que infelizmente não tiveram a saída airosa que mereciam.
Sou admirador do trabalho de Pinto da Costa, desde sempre, apenas com dois senãos na sua Presidência: o caso Gomes e a mudança das camisolas...
Quanto ao Gomes, o seu pecado, embora posteriormente, foi ter sido sócio do Veiga...
Mas agora parece que tudo já está ultrapassado, e ainda bem.
E mais, o que mais interessa é que o Porto vença!
A. P.

Anónimo disse...

«... em relação ao F. Gomes posso dizer que ele naquele problema da Madeira, me desiludiu como profis sional, capitão e principalmente, como portista ...»


E o Pedro Emanuel? Diferenças?

Co Adriansen em vez de Octávio. Jantar em vez de sobremesa. Um boavisteiro o outro... dragão.


xx xx xx


«... o seu pecado, embora poste riormente, foi ter sido sócio do Veiga ...»


Além do Alexandre, não é verdade?

Quem? Exactamente aquele que não mereceu inspiração de Deus apesar de também ser filho do pai dele.

Ruy Moura disse...

O Gomes é um jogador de elite. Nunca tendo sido um verdadeiro 'craque', ele foi, de certo modo, um verdadeiro 'craque'. Alem de ser dos poucos jogadores de futebol com cultura pessoal acima da média. Escrevi um artigo sobre ele também, em tempos, fazendo-lhe o perfil.

E agora, contra o Manchester?... Caramba!... Ricos contra pobres e remediados... Hoje a Champions é de dez clubes exclusivamente...

Abraços botafoguenses e sportinguistas ao amigo portista.

RicFCP disse...

Em relação a este senhor não há muito mais a dizer. É um dos nomes maiores história do nosso clube (para muitos será mesmo o maior).

E era o meu ídolo de infância :)

Nuno disse...

Parecia um "aranhão", ora na área na "babugice", tal era o seu faro para o golo, ora à frente do jogadores do meio campo a ajudar a lançar os colegas nas laterais e também para fugir às marcações, jogava e fazia jogar, ainda me lembro do passe que fez para o Rui Barros se isolar e fazer o único golo da partida em pleno Estádio Olímpico de Amsterdão frente ao Ajax, na célebre primeira mão da final da Supertaça Europeia em 87.

Anónimo disse...

O Senhor Porto.

Anónimo disse...

O meu herói de infância. O meu primeiro jogo ao vivo de sempre foi contra o covilhã, num jogo em que ele marcou 2 golos e o porto festejou o bi campeonato. Não merecia ter sido escorraçado do clube como foi e o tempo deu-lhe razão.

RS

Vítor Alfredo Santos disse...

Fernando Gomes foi o meu maior ídolo de sempre no FC Porto... já mais esquecerei o celebre jogo contra o Covilhã, foi a primeira vez que vi o meu clube ao vivo, aquele golo do "bi-bota d'ouro" de bicicleta foi espectacular... enfim grandes memórias!!!
Admiro o presidente Pinto da Costa quanto às suas conquistas, mas uma das coisas que não gostei nada foi a maneira como não soube lidar com a situação ocorrida.
Viva o FC Porto...
Um forte abraço para o Fernando Gomes!

Anónimo disse...

Luis....alguem tem o relatorio dos golos

Desc disse...

O melhor jogador português de sempre.

Unknown disse...

O Gomes foi e será um dos melhores avançados do Futebol português.A sua classe como jogador e também a sua cultura geral dominante nas entrevistas,Parabens.